Bissau,23 Dez 20(ANG) – O Procurador-geral da República, Fernando Gomes, acusou terça-feira o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) de arquitetar « ignomínias » por « medo e desorientação », e anunciou que vai deixar de ser militante do partido.
« Mas, mais estranho e preocupante, designadamente para a democracia, é o facto de eu ter deixado o cargo de ministro da Função Pública, em agosto de 2011, e o de ministro do Interior, em abril de 2012, e nunca o PAIGC ter manifestado qualquer desconfiança, nem qualquer acusação em relação ao meu desempenho no Governo, nem ter promovido qualquer processo disciplinar contra mim », pode ler-se na carta.
Fernando Gomes questiona também a razão pela qual a direção do PAIGC o acusa agora de dois crimes e o designou como delegado do congresso do partido, realizado em 2018.
« Será que já estava consciente de que eu era criminoso e corrupto quando me acolheu nas suas fileiras », questiona Fernando Gomes, na carta.
O Procurador-Geral da República salienta também que se o PAIGC sabia que ele era « criminoso » e « corrupto » deve explicar as razões pelas quais se manteve em silêncio nos últimos oito anos, se é prática do partido « calar e encobrir crimes cometidos pelos seus militantes » ou « fundamentar por que está a mentir e a mando de quem ».
« Estranha coincidência esta de a atual direção do PAIGC só agora, quando foi emitido o mandado de captura internacional contra Domingos Simões Pereira, ter-se lembrado de me acusar como criminoso e corrupto », sublinha Fernando Gomes.
Admitindo a possibilidade de recorrer à via judicial para defender a sua « honra » e « bom-nome », Fernando Gomes anunciou também que vai renunciar como militante do partido, por não reconhecer a atual direção e « sobretudo ao seu atual líder, idoneidade, sentido de responsabilidade, de justiça e de serviço público ».
O Procurador-Geral da República guineense anunciou na sexta-feira ter emitido um mandado de captura internacional contra Domingos Simões Pereira no âmbito de um processo-crime, sem avançar mais pormenores.
O grupo parlamentar do PAIGC pediu hoje a demissão de Fernando Gomes para responder por alegados « crimes de sangue » e de « desvio de fundos ».
O líder do PAIGC está em Portugal há vários meses.