Cidade da Praia, 17 Jan (Inforpress) – O historiador António Correia e Silva disse, na Cidade Velha, que a história de Cabo Verde é feita pela “negação da liberdade e superação de barreiras” e que a escravatura é “uma vivência fundante” dos cabo-verdianos.
Enquanto conferencista do tema “Por uma etnografia da liberdade na história de Cabo Verde”, promovido no âmbito da 11ª Semana da República, que decorre até quinta-feira, 20, em mais uma iniciativa da Presidência da República, Correia e Silva afirmou que a liberdade foi sentida ao longo da história de Cabo Verde, “sentida e desejada” por diversos actores que habitaram o País.
Propõe o historiador percorrer a história de Cabo Verde com “bocas de sete léguas” para tentar ver as situações matriciais polarizadores, que criaram vivências e segregaram formas de conceptualizar e de sentir a liberdade, ressaltando que a história de Cabo Verde começa na Cidade Velha, fundada pelo tráfico e para o tráfico de escravo.
“A escravatura é uma vivência fundante dos cabo-verdianos e ela perdura em Cabo Verde durante pelo menos três quatro séculos, não só do ponto de vista jurídico, mas com relação social. E é bom que estejamos a reflectir simbolicamente, que a fundação de Cabo Verde tem a ver com a escravatura”, considerou o historiador.
A escravatura, apontou, é a “negação mais contundente” da liberdade e a apropriação de um ser humano para o outro, acrescentando que a fundação de Cabo Verde tem a ver não só com o tráfico de escravo, mas também com a sociedade escravocrata, alegando que as relações de produção escravocrata tiveram “enorme sucesso” em Cabo Verde.
“Mesmo na escravatura, os africanos trouxeram para a Cidade Velha muito conhecimento. Grande parte da base epistémica que faz a sociedade escravocrata funcionar é conhecimento africano”, ressalvou Correia e Silva.
O chefe da Casa Civil da Presidência da República, Jorge Tolentino, por seu lado, enalteceu a disponibilidade da câmara municipal em tornar-se parceira da Semana da República, argumentando que não se podia realizar esta conferência sem se incluir a Cidade Velha como um dos seus pólos, porquanto o colóquio ocorre sob o signo da história, da memória e da cultura.
A mesma fonte referiu que o programa deste ano teve de ser comprimida, em virtude da pandemia, o que fez cair as actividades previstas para as ilhas de São Nicolau e São Vicente, mas que as actividaes agendadas procuram concretizar as ideias subjacentes a iniciativas, visando o enaltecimento dos valores e princípios implícitos nas datas comemorativas 13 de Janeiro e 20 de Janeiro.
O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, Nelson Moreira, ao saudar a iniciativa, na qualidade autarquia anfitriã, disse que a prazo a câmara pretende fazer da Cidade Velha um ponto de encontro com a história de Cabo Verde, com a cabo-verdianidade e com o mundo global, que o País ajudou no passado “a edificar e a formatar”.
“Precisamos conhecermo-nos melhor para podermos alcançar e aproveitar as oportunidades do futuro, não do futuro que já passou, mas do futuro por vir”, precisou o autarca.