Bissau, 19 Ago (ANG) – O presidente maliano Ibrahim Boubacar Keita acabou por apresentar a demissão nesta terça-feira após ter sido derrubado por um golpe militar que pôs termo também ao governo e ao parlamento.
Os revoltosos, apoiados pela população, apelam a uma transição civil.
O presidente e o primeiro-ministro foram detidos pelos militares em Bamaco, nesta terça-feira, antes de formalizarem a queda do regime.
As autoridades eram contestadas há meses levando à mediação em vão do antigo presidente nigeriano, Goodluck Johnathan, em nome do bloco regional, a Comunidade económica dos Estados da África ocidental.
Esta decidiu suspender o Mali da organização, fechando as fronteiras como país, e condenou o golpe anunciando uma cimeira extraordinária para esta quinta-feira sob a alçada do presidente nigerino, Mahamadou Issoufou, líder regional.
A União Africana, mas também a França, a União Europeia e as Nações Unidas condenaram a alteração da ordem constitucional maliana.
O Conselho de segurança da ONU poder-se-ia reunir de emergência nesta quarta-feira sobre o caso.
Os militares prometem transição civil e novas eleições num prazo razoável.
Estes tinham capturado IBK e Boubou Cissé, primeiro-ministro, na casa do até agora presidente maliano ao final da tarde desta terça-feira.
A revolta implicou também a neutralização de altas patentes do exército por parte dos revoltosos que, ao que tudo indica, teriam levado a cabo a sua intervenção desde a base de Kati, a 15 kms da capital.
A oposição tem recusado integrar um governo de união nacional e tem apelado à demissão tanto do primeiro-ministro, como do presidente.
Este último cenário era, porém, descartado pela CEDEAO.
Na declaração, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP), IBK disse na televisão pública que tinha trabalhado desde a sua eleição, em 2013, para dar a volta ao país e “dar corpo e vida” ao exército maliano, que enfrenta a violência ‘jihadista’ há anos.
Apresentado como “presidente cessante”, Keita referiu-se depois às “várias manifestações” que têm vindo a exigir a sua partida há vários meses, afirmando que “o pior aconteceu”.
“Se hoje pareceu bem a alguns elementos das nossas forças armadas concluir que tudo deveria terminar com a sua intervenção, será que tenho realmente escolha? Não tenho outra escolha senão submeter-me, porque não quero que seja derramado sangue para me manter [no cargo]”, disse.
“É por isso que gostaria neste preciso momento, agradecendo ao povo do Mali o seu apoio ao longo destes longos anos e o calor do seu afecto, de vos anunciar a minha decisão de deixar as minhas funções, todas as minhas funções, a partir deste momento”, anunciou. “E com todas as consequências legais: a dissolução da assembleia nacional e do governo”, acrescentou.
ANG/Inforpres/Lusa/RFI