Bissau, 21 Set 23 (ANG) – O presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Domingos Simões Pereira, defendeu hoje que, 50 anos após a independência, é chegado o momento de colocar a população como” única prioridade no país, de cumprir o prometido”.
A segunda figura do Estado guineense e presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vincou, em entrevista à Lusa, a responsabilidade dos políticos nas condições atuais do país, que se prepara para assinalar, no domingo, os 50 anos da independência de Portugal.
O presidente do parlamento considerou que está por cumprir parte do sonho, que tem como símbolo maior o histórico Amílcar Cabral, pois continuam a faltar à população guineense « coisas concretas » como « uma melhor qualidade de vida, melhores escolas, melhores estradas ».
Domingos Simões Pereira lembrou que « quando Cabral convocou o povo guineense para a luta de libertação, que se transformou em luta armada, lançou uma divisa extraordinariamente importante, o princípio da unidade, era a primeira vez que todo o povo guineense se juntava por um desafio ».
« Todos nós que ouvimos Cabral dizer que a independência era o programa mínimo, o programa maior era a construção do país, agora estamos a perceber que ele se referia ao facto de nós não termos escolas, não termos urbanidade. Eu vejo, muitas vezes, sermos comparados com outras realidades e dizerem como é que estes conseguiram e como é que eles não estão a conseguir », observou.
« Há 50 anos, a Guiné-Bissau tinha 14 pessoas com formação média oficial, hoje temos milhares e portanto temos que assumir o desafio do momento, temos que rever toda a nossa programação e assumir um compromisso conosco e com a sociedade », acrescentou Simões Pereira.
O presidente da ANP considerou que « o desenvolvimento de uma sociedade não se faz com proclamações, não há como queimar etapas, formar uma geração leva tempo ».
« Gostávamos todos de já estar num patamar maior, já estar a celebrar outro tipo de conquistas, mas temos que ter capacidade suficiente para compreender que essas etapas não se conseguem queimar. Estamos a aprender, eu espero que ainda viva o suficiente para conhecer o filho do meu filho e com esse poder falar sem complexo », disse.
Domingos Simões Pereira assumiu como responsabilidade própria « legar às próximas gerações de guineenses uma direção, uma orientação
Durante todo o fim-de-semana, deputados, restantes órgãos de soberania e convidados viajam até Lugadjol para recriar o momento da primeira assembleia constituinte, nas matas de Madina do Boé, um local de difícil acesso, que torna o evento « uma missão quase impossível », como admitiu o presidente do Parlamento.
« Mas eu penso que é essa impossibilidade que tem que tocar a nossa mente, tem que tocar a nossa responsabilidade para lembrarmos de onde é que partimos e o que prometemos a nós próprios há 50 anos e ter em conta que este povo já aguarda por nós há muito tempo », afirmou à Lusa.
Se os combatentes que declararam a independência há meio século no mato conseguiram lá chegar « em circunstâncias terríveis », Domingos Simões Pereira considera que os atuais responsáveis pelo país também têm « que conseguir », e sobretudo cumprir o desenvolvimento prometido à população.
« Depende de nós, depende dos guineenses, nós já fomos capazes de colocar muitos desafios e muitas prioridades, é chegado o momento de colocarmos a melhoria da condição de vida da nossa população como praticamente a única prioridade », preconizou.
O presidente da ANP defendeu que é necessário que todos conheçam a história do país, que os alunos possam aprender « a epopeia daqueles que de facto deram tudo o que tinham de mais valioso em troca da sua liberdade ».
« Hoje beneficiamos de um quadro de paz, de alguma tranquilidade e tudo isto se deve às mulheres e homens que foram capazes de construir a independência. Ainda falta mudar muito, mas até a capacidade de sonharmos com essa mudança tem a ver com o facto de sermos livres e isso não pode ter preço », sublinhou. ANG/Angop