Santa Maria, Ilha do Sal, 07 Jul (Inforpress) – O primeiro-ministro defendeu hoje uma reforma do Banco Mundial que seja ajustada aos novos tempos e capaz de o transformar num banco “mais próximo e mais ágil” nas operações.
Ulisses Correia e Silva discursava na abertura do encontro anual do African Caucus 2023, que está a decorrer na ilha do Sal, evento que reúne ministros das Finanças, governadores africanos e destacados representantes do Grupo do Banco Mundial (GBM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Juntos temos que fazer as reformas do Banco Mundial ajustadas aos novos tempos, ajustadas ao futuro que temos que construir juntos ‘Big Bank – Better Bank’. Um banco mais próximo e mais ágil nas operações. Mas é um desafio para todas as instituições financeiras internacionais”, disse o chefe do Governo
Ulisses Correia e Silva sustentou que os investimentos com impactos transformadores de longo prazo exigem recursos concessionais, previsibilidade, efeitos de escala e tempo de execução dos financiamentos ajustados aos resultados que se pretendem obter.
“O ‘go and stooop’ e ‘petites étapes’ fazem-nos chegar tarde, com incertezas na continuidade e com impactos reduzidos. O peso da dívida externa, os riscos soberanos e as condições de financiamento dos países e das empresas africanas são assuntos sérios que bloqueiam as saídas para o desenvolvimento. Precisam de soluções estruturadas e consistentes”, acrescentou.
Neste sentido, citou como exemplo a transformação da dívida em financiamento climático e ambiental, que, na sua perspectiva, reduz a dependência dos combustíveis fósseis, cria valor económico aos recursos naturais como o sol, o vento e o mar, e reduz a fatura energética.
“Partilho convosco que recentemente assinamos com o Governo português um acordo de conversão de dívida em financiamento climático e ambiental, que tem esses propósitos que enunciei. Um bom exemplo que desejamos seja contagiante”, declarou.
Por isso, disse esperar que o encontro do Sal, que decorre sob o lema sob lema “Novas modalidades e mecanismos para financiar o desenvolvimento económico em África”, seja uma “etapa importante” no processo transformacional da África.
Pois, conforme realçou, a África precisa crescer mais e ter melhor inserção na economia mundial para produzir, exportar, criar empregos bem remunerados, eliminar a pobreza extrema e proporcionar felicidade aos seus povos.
“Os ganhos serão para todos: para a África com uma população jovem e elevado potencial de consumo e produção, e para o resto do mundo que enfrenta o fenómeno de envelhecimento da população como um fator recessivo da economia. Juntos podemos e devemos somar em vez de subtrair”, frisou o chefe do Governo.
Ulisses Correia e Silva sublinhou que o continente precisa de transformações estruturais ao nível do perfil de economias baseadas em commodities com baixo valor acrescentado, para economias mais diversificadas, com maior integração nas cadeias de valor, e mais competitivas.
“Transformações estruturais para economias na base do sector privado, com tecido empresarial formalizado, competitivo, criador de empregos e pagador de impostos. Transformações ao nível da redução das vulnerabilidades, aumento da resiliência e respostas a choques externos económicos, financeiros, energéticos, climáticos e pandémicos”, acrescentou.
Igualmente mencionou as transformações estruturais ao nível das conectividades, que é “um dos grandes constrangimentos” à integração económica africana, “uma aposta decisiva, consistente e eficaz” no capital humano
O primeiro-ministro aproveitou para alertar aos parceiros que o financiamento ao desenvolvimento dos pequenos Estados Insulares, como Cabo Verde, não deve estar indexado ao investimento per capita e nem ao rendimento per capita, mas sim ao valor económico, social e ambiental que o investimento cria para tornar esses países mais resilientes e menos vulneráveis.
“Os indicadores de elegibilidade e as condições de financiamento devem levar em conta essas especificidades. Os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS – sigla inglesa) aguardam pelo Índice de Vulnerabilidades Multidimensional e sua adoção efectiva e comprometida”, realçou.
No African Caucus, de entre várias outras temáticas de interesse para o desenvolvimento do continente africano, vai-se debater o tema do sector privado.