Assomada, 04 Set (Inforpress) – O sociólogo Henrique Varela alertou hoje para a tendência de os políticos em Cabo Verde se perpetuarem no poder, sobretudo os presidentes de câmara, defendendo que cabe ao eleitor pôr fim a esta tentativa.
Em entrevista à Inforpress, o activista social, para sustentar as suas afirmações, tomou o caso de muitos presidentes de câmara que vão tentar terceiro ou quatro mandato nas eleições autárquicas de 2024, aliás, notou que muitos já manifestaram tal intenção.
“Em Cabo Verde também há essa tendência de os políticos perpetuarem-se no poder, porque quando chegam ao poder aquilo lhes apetece de tal forma que acabam por querer se perpetuar no cargo, e ganham gosto e ganham vontade, e manifestam sempre a disponibilidade em permanecer [no cargo]”, observou o professor da disciplina de Sociologia no Liceu Amílcar Cabral de Assomada, Santa Catarina
No entanto, notou que contrariamente a muitos países africanos em que se usam “manobras constitucionais”, golpes de Estado e sucessões sem se passar pelo crivo eleitoral, em Cabo Verde os políticos, e neste particular os presidentes de câmara usam a popularidade e trabalho feito ao longo dos quatro anos de mandato para tentarem se manter no cargo.
Segundo disse, tendo em conta que em Cabo Verde só há limitação de mandato de dois anos para o Presidente da República, estes presidentes de câmara podem “eternizar-se” no cargo
No caso de um edil que cumpre o primeiro mandato de quatro anos, no seu entender este é “naturalmente” candidato à própria sucessão, sustentando que um mandato de quatro “não é suficiente para cumprir todas as promessas e compromissos” eleitorais
“O mandato de quatro anos é para arrumar a casa e mais quatro anos para o trabalho efectivamente, e fazendo este trabalho mais quatro anos sentem-se a necessidade de continuar esse trabalho, daí essa sina de muitos presidentes de câmara terem vários mandatos nas costas”, reforçou.
Instado se não é chegado o momento de o País ter uma lei que limita para três anos consecutivos os mandatos do presidente da câmara municipal e outros cargos políticos, Henrique Varela respondeu nesses termos: “Isso não é possível, porque é pelo voto. Desde que o sujeito está sendo votado ele continua, porque isso agora é dizer ao povo para não votar nesses candidatos. O candidato é livre para concorrer e o povo também é livre para aceitar ou recusar o candidato que se apresenta nas urnas”.
“Muitos [presidentes de câmara] acabam por fazer carreira na política, porque não tendo limite de mandato, e ganhando uma certa popularidade sempre vão ter reeleição. E se o sujeito está sendo eleito e reeleito ele não vai querer deixar isso [o cargo], e vai querer continuar”, continuou.
Na sua opinião, cabe aos eleitores rejeitarem nas urnas esses candidatos que querem se perpetuar no poder, até porque, lembrou, não existe nenhuma lei que impede um sujeito de se apresentar uma candidatura.
“O sujeito é livre para apresentar uma candidatura, mas também o eleitor é livre para aceitar ou rejeitar essa candidatura. Rejeitando a candidatura deixa-se de permanecer tanto tempo no poder”, insistiu o sociólogo Henrique Varela.
Conforme apurou a Inforpress a maioria dos presidentes de câmara já manifestou a disponibilidade de continuarem à frente dos destinos dos respectivos municípios.