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ENTREVISTA: José Luiz Tavares anuncia novos projectos literários e destaca obra com “críticas veladas” à classe política cabo-verdiana


  7 Juin      23        Books (181),

   

*** Por José Maria Varela, da Inforpress ***
Lisboa, 07 Jun (Inforpress) – O poeta cabo-verdiano José Luiz Tavares anunciou hoje novos projectos literários, entre os quais um livro escrito integralmente em língua cabo-verdiana, com “críticas veladas” à classe política do arquipélago, e que deverá ser editado ainda este Verão.
“Neste momento, estou a finalizar uma grande obra, escrita directa e integralmente em língua cabo-verdiana, a primeira que assim escrevo, e que deverá ser editada ainda este Verão, com recriações visuais do artista plástico Tchalê Figueira”, anunciou, sem avançar mais pormenores sobre a obra, esperando, no entanto, que o livro venha a ser uma “bomba política e cultural” em Cabo Verde.
José Luiz Tavares falava à Agência Inforpress, em Lisboa, 72 horas antes do lançamento, nesta terça-feira, no Centro Cultural de Cabo Verde, na capital lusa, da edição bilingue do poema “Ode Marítima”, de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, revertido para a língua cabo-verdiana pelo poeta do Tarrafal de Santiago.
Dos vários projectos em mãos, indicou a tradução e organização duma “grande antologia” dos poemas de Álvaro de Campos, onde a Ode Marítima terá uma nova versão, e deverá sair lá para o Outono.
“Assim que a antologia estiver fechada, devo avançar para a tradução do Discurso Sobre o Filho da Puta, tão instrutivo e tão actual, do meu velho professor e vivo mestre Alberto Pimenta, e lá mais para a frente pegar no Livro do Desassossego, de Bernardo Soares”, revelou.
José Luiz Tavares anunciou ainda que vai retomar a adaptação da “Odisseia”, um dos dois principais poemas épicos da Grécia Antiga, atribuídos a Homero, para cabo-verdiano, projecto que, segundo o poeta, está estagnado há meia dúzia de anos.
“Existem programas de financiamento, mas falta-me um editor que queira concorrer a esses programas. O meu editor actual não tem capacidade para tudo, já faz muito, até mais do que as próprias autoridades competentes do meu país. O que eu consigo fazer é roubado ao tempo de criação da obra própria, nos intervalos das labutas para que não faltem o pão e o leite”, lamentou.
Ainda em termos de novidades literárias, o autor de “Lisbon Blues” anunciou para 2022, ano em que cumpre o seu quinquagésimo quinto aniversário, a publicação de “textamento poético”, um “terno, quezilento e sulfuroso texto”, escrito durante o primeiro confinamento, em português e traduzido para a língua cabo-verdiana.
Dada à estampa com a chancela da editora Abysmo, a tradução para cabo-verdiano da Ode Marítima, de Fernando Pessoa, assinada pelo seu heterónimo Álvaro de Campos, é feita na matriz da ilha de Santiago, cuja estrutura é, segundo José Luiz Tavares, também a matriz de muitos crioulos antigos, como os de Bonaire, Aruba e Curaçao.
“Portanto, muito cuidado com certas questões internas regionais que extravasam para o âmbito linguístico, mas que são questões outras, que não questões científicas do campo puramente linguístico”, assinalou.

“Com muita pena minha”, prosseguiu, “não vejo ninguém em Cabo Verde a tentar fazer tal trabalho nas outras variantes, usando o alfabeto oficial, que provaria, se tal fosse necessário, que o alfabeto cabo-verdiano dá para escrever todas as variantes, e que estas podem suportar qualquer obra da literatura universal”.
Questionado sobre os desafios encontrados na tradução de Ode Marítima, considerada “um dos mais grandiosos e profundos poemas de que pode orgulhar-se a língua portuguesa” (Eduardo Lourenço) e até “um dos mais geniais poemas de qualquer época da literatura universal” (Adolfo Casais Monteiro), José Luiz Tavares assumiu que a dificuldade maior é não ter um “modelo erudito na língua de chegada”.
Explicou que já tinha deparado com este obstáculo de forma “bem mais aguda” aquando da tradução dos sonetos de Camões, dado que as “formas fixas” requerem ainda uma muito maior plasticidade linguística e sedimentação literária na língua de chegada.
“E também o tentar distanciar suficientemente o poema traduzido da língua original, para evitar as falsas familiaridades e similitudes, se tomarmos em conta que a base lexical da língua cabo-verdiana é o português, mas a morfo-sintaxe não tem nada que ver com ele ou com a regência das línguas românicas”, explicou.
Para o autor de “Paraíso Apagado por um Trovão”, o trabalho de tradução, quanto “mais árduo, mais prazeroso: “E nesse caso, não o foi menos ouvir esse grande poema que, ao lado da Canção X de Camões, considero um dos mais instigantes do idioma luso, dizia, ouvir esse poema ressoar fundo na minha língua materna e língua natural foi compensação suficiente para todas as agruras e desafios da tradução”.
A ideia de verter os clássicos portugueses para a língua cabo-verdiana surgiu-lhe logo no início deste milénio, pouco depois da sua estreia em livro, escrito em língua portuguesa, em 2003.
“Embora eu nunca pensasse escrever em língua cabo-verdiana (aliás tinha enormes reservas mentais), a partir desse livro inaugural pus-me a pensar na razão disso. E a conclusão, pessoal, a partir da minha experiência, e apenas para responder às minhas inquietações, era porque não dispunha de um corpus poético suficientemente apelativo e diversificado que constituísse um modelo suficientemente forte que me atraísse para a escrita poética em língua cabo-verdiana”, esclareceu.
De acordo com o poeta, salvo raríssimas excepções, o que existia era de âmbito da oralitura (literatura oral), ou mimetizando os seus temas, códigos e processos.
“Daí, não tendo eu próprio capacidade para tentar algo diferente (embora escreva em língua cabo-verdiana, não me considerava há até bem pouco escritor nessa língua), formou-se na minha cabeça a ideia de que, no imediato, tal corpus só poderia advir por meio da tradução de obras da literatura universal”, esclareceu.
José Luiz Tavares nasceu a 10 de Junho 1967, no Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde. Estudou literatura e filosofia em Portugal, onde vive.
Entre 2003 e 2020 publicou catorze livros espalhados por Portugal, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Colômbia.
Recebeu uma dezena de prémios atribuídos em Cabo Verde, Brasil, Portugal e Espanha, sendo o autor cabo-verdiano mais premiado de sempre. Não aceitou nenhuma medalha ou comenda, até agora.
Traduziu Camões e Pessoa para a língua cabo-verdiana. As obras do poeta estão traduzidas para inglês, castelhano, francês, alemão, mandarim, neerlandês, italiano, catalão, russo, galês, finlandês e letão.

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