Cidade da Praia, 22 Jun (Inforpress) – Celestino Lobo completou 15 anos desde que tomou a decisão, em 2006, de entrar na Comunidade Terapêutica da Granja de São Filipe para recuperar do abuso de álcool e drogas, que iniciou aos 15 anos, ainda estudante.
O ex-toxicodependente, que contou a sua história na primeira pessoa, num encontro promovido online, esta segunda-feira, pela Comissão de Coordenação do Álcool e outras Drogas (CCAD) para marcar o Dia Internacional contra o Uso Abusivo e o Tráfico Ilícito de Drogas, que se assinala a 26 de Junho, afirmou que as lembranças do passado são “um poderoso remédio” para o deixar longe dos vícios.
“Sou um toxicodependente em recuperação há 15 anos, um processo muito difícil, por ter iniciado o consumo de álcool com 15 anos, ainda estudante. A partir daí, com 19 anos, tornei-me num dependente e foi extremamente penoso, pois nenhum projecto de vida que tentei prosseguir consegui concretizar”, contou.
Segundo relatou, após vários anos na dependência, com 25 anos foi para Tenda El Shaddai, tendo passado alguns anos e voltado para a sociedade pensando ter-se recuperado depois de três anos sóbrio.
Só que, de volta à sociedade, Celestino Lobo disse ter tido pouco tempo para ter a sua primeira recaída e voltar outra vez a Tenda El Shaddai, pela segunda vez, em 2003.
“Depois disso, voltei a bebedeira e passei a consumir pedra. Vendi todos os meus pertences, passei dois anos a viver na rua numa situação de penúria, perdi controlo sobre a minha vida e o pior é que com o consumo desenvolvemos um tipo de ideologia de auto-justificar a causa com muita negação”, explicou.
O ex-dependente, que contou ter vivido “uma vida complicada”, com “sofrimentos e torturas”, salientou que conseguiu, com a sua força de vontade e ajuda dos familiares, ingressar, em 2006, na comunidade Terapêutica da Granja de São Filipe, onde conseguiu a recuperação.
“A partir daí a minha vida tomou outros rumos e comecei a olhar para a minha pessoa de forma diferente. Tomei conta de mim voltando outra vez para a sociedade, mas o mais importante foi o apoio da minha família na recuperação”, contou.
Após vencer o vício e a doença, Celestino Lobo diz ter aceitado a sua pessoa, passando a ver o seu passado não como um incómodo, mas sim como uma referência, tentando não culpar o mundo, mas assumindo a total responsabilidade sobre a escolha que desembocou em dependência.
Por isso, prosseguiu, a sua mensagem é voltada para os jovens no sentido de que estes devem fazer “escolhas saudáveis e não seguir influências” que os podem levar ao “mundo da perdição”.
“Hoje vivo na recuperação, mas tive muito conhecimento que me ajudou a começar a estudar, formar-me e a tornar-me num homem diferente. Hoje trabalho como terapeuta ocupacional na Granja de São Filipe”, destacou o homem que após vários anos na dependência recuperou-se e licenciou-se em Ciências Sociais.
Apesar de se sentir espiritualmente “livre” do vício, afirma ter consciência do peso da dependência e de estar permanentemente a fazer manutenção de si mesmo e a estar atento para não voltar a recair.
