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São Vicente/REPORTAGEM: Quando cuidar e limpar sepulturas é ganha-pão de homens e mulheres


  17 Août      37        Société (45145),

 

Mindelo, 17 Ago (Inforpress) – O cemitério de São Vicente tem sido também um lugar para o ganha-pão de mais de uma dúzia de homens e mulheres, que conseguem se sustentar e ajudar a família na limpeza e cuidado de sepulturas.
Embora a morte ainda seja um tabu, e, ao mesmo tempo, a coisa mais certa na vida, ela apresenta-se também como uma oportunidade de negócio, desde a escolha do caixão até ao momento em que o corpo é dado à terra.
No cemitério municipal de São Vicente não é diferente e nem é de agora. Que o diga Isilda Inocêncio, idosa já esquecida da conta dos anos que tem e dos tantos que trabalha nesta “última morada” dos sanvicentinos, mas que diz ter a certeza de ter criado todos os cinco filhos neste trabalho, depois os netos e agora os bisnetos.
“Vim aqui para buscar a vida, temos que lutar e vencer. O que interessa é ganharmos a vida honestamente e não pôr as mãos nas coisas de outrem, porque as coisas alheias são chamadas de lixo”, indicou Isilda Inocêncio, para quem é “bonito” andar com a “cara levantada” e vestida com “fruto de trabalho”, do que ser chamado de ladrão, “uma vergonha para a família, principalmente”.
Por isso, agradece todo aquele que lhe confia o côvado do familiar para ganhar os seus “tostões”, pois é um “trabalho de dignidade e com carácter”, exercido neste momento por mais de dez pessoas entre homens e mulheres.
Outro dos veteranos é Carlos Alberto Inocêncio, que dedicou 37 dos seus 55 anos a cuidar de covas e já “ensinou muita gente” mais nova que passou por aí e até conseguiu construir a sua casa, que faz rua com o cemitério.
Depois de completar a quarta classe, foi para oficina de carpintaria, trabalhou nos Espaços Verdes da autarquia, como coveiro e depois decidiu ficar ali e trabalhar por conta própria, confeccionando cruzes de campa e as próprias sepulturas, e agora são quase 30 as que lhe foi confiado..
Jorge dos Reis é um dos mais novos, 37 anos, e decidiu abraçar esta profissão, desde 2015, por influência dos colegas da sua zona, atrás do cemitério, onde reside a maior parte destes “cuidadores” de sepultura.
“Sempre via os meus colegas vindo para cá e os acompanhava e sempre aparecia alguém a pedir para limpar um mármore e cuidar de um jardim e fui me viciando nisso e vi que me dava algum lucro, em vez de estar parado”, contou este jovem, que estudou até o 10º ano, mas desistiu da escola após ter sido chamado para a tropa.
Passou depois a lavar carros e agora concilia isso com a “labuta” no cemitério, em que aprendeu com colegas mais velhos a fazer “tudo” num túmulo de cimento, sozinho.
Agora com cinco anos de experiência, Jorge dos Reis disse sentir-se “bem” no seu trabalho, no qual encontra “paz de espírito” e “sem qualquer pressão de patrões”,
“Quando é assim, trabalhamos com paz de espírito, amor e tudo dá certo”, assegurou, apontando mais de 20 covas que tem na sua responsabilidade para regar as plantas e limpar mármores, por uma mensalidade de 500 escudos, no máximo, cada. Um “montante bom”, que permite a sua independência a ajudar a mãe, com quem mora.
Mas, nem tudo são rosas e paz, existem dificuldades apontadas, por exemplo, por Mário Coronel, 47 anos, com mais de 15 anos passados a trabalhar no cemitério, para onde foi levado como ajudante de uma vizinha e depois passou a ir sozinho.
Mário disse que já teve mais côvados a seu encargo, mas hoje só dez, devido a “crise” que se instalou no cemitério, a quando da desativação do poço interno da infra-estrutura.
“Antes tínhamos mais condições, mas hoje existe um problema de água e por isso temos que a buscar longe daqui e estamos em perigo”, relatou a mesma fonte, falando de falta de segurança do poço, que é de propriedade privada e onde tiram água só com corda puxada pelo braço.
O mesmo problema colocado por José Neves, que concilia, há 12 anos, o trabalho de guarda do cemitério com o de cuidador das sepulturas, nas suas horas vagas.
José Neves falou de “muita concorrência” agora nesta sua última profissão, na qual trabalham actualmente umas 30 pessoas, se contar os frequentadores diários e mais aqueles que cuidam das campas ocasionalmente.
“Desde final de 2016, estamos nesta situação, sem água do poço do cemitério para regar as covas, usamos um poço de um terreno privado que já está à venda e quando for vendido, de certeza, que vai ser vedado”, sustentou o guarda de 57 anos, para quem os espaços verdes dão “mais alegria e vida” ao cemitério.
Por isso, José Neves prognosticou problemas futuros, já que não vão conseguir trazer a quantidade de água de casa para regar todas as sepulturas, o que poderá encarecer o montante mensal cobrado aos familiares dos mortos, neste momento de “apenas 500 escudos”.
“Se não houver água, não há trabalho”, considerou Carlos Alberto Inocêncio, adiantando que já falaram com o presidente da câmara municipal sobre esta situação, mas até agora não teve resolução.
Além da falta de água, os cuidadores lidam ainda com um outro constrangimento, os “calotes”, razão do “abandono” de covatos depois de alguns meses sem receber.
Contudo, seguem exercendo a sua profissão com “muita dignidade e responsabilidade”, asseveram.
Um trabalho que poderá brevemente ser facilitado, uma vez que o vereador de gestão do cemitério, José Carlos da Luz, assegurou à Inforpress que vão colocar água canalizada no espaço.
Segundo a mesma fonte, “até à próxima semana”, poderão começar os trabalhos preparatórios e logo de seguida a Electra fará a ligação na rede pública.
“Assim que fizermos a ligação, vamos ceder-lhes água gratuitamente para que possam continuar a ter o seu ganha-pão”, asseverou José Carlos da Luz, adiantando ainda a construção de dois reservatórios para o caso de ruptura de fornecimento.
“Nós mesmos precisamos de água ali no cemitério e com essa ligação o problema vai ficar resolvido, quer para a câmara municipal, quer para esses trabalhadores”, afiançou o vereador, acrescentando que nesta terça-feira a equipa camarária fará uma visita para ultimar todos os preparativos.
José Carlos da Luz disse que o antigo poço foi desactivado por “questões de segurança e evitar males maiores”, já que infra-estrutura estava a desabar.

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