Bissau,12 Jan 23(ANG) – O coordenador da Organização para a Promoção e Valorização da Cultura Papel(Otepi), reivindicou esta quinta-feira a manutenção do nome Nbatonha, no Parque Europa, na lagoa Nbatonha, em Bissau que está a ser destruído para construção de mesquita e outras infraestruturas sociais.
“O Parque Urbano de Nbatonha já atingiu a dimensão internacional e ultrapassa a etnia Papel”, disse hoje Batista Té, em conferência de imprensa sobre a posição da organização face a situação do Parque Europa Lagoa de Nbatonha.
Aquele responsável sublinhou que se o referido espaço está a ser posta em causa por interesses alheios, todos os guineenses devem levantar a voz em defesa, e não apenas a etnia Papel.
“Nós não estamos contra o projeto que o governo pretende construir no espaço, ou seja mesquita, centro de Saúde, parque de diversão para crianças, centro comercial, centro educacional, entre outros. O que estão a reivindicar é a manutenção do nome Nbatonha em todas as infraestruturas a serem construídas no local”, disse Batista.
Té manifesta dúvidas se as referidas infraestruturas irão caber no espaço em causa.
“Queremos sentar-se a mesma mesa com os arquitetos do projeto para nos explicar melhor sobre a construção das referidas infraestruturas, ou se pensam construir edifícios com 12 pisos no local”, disse.
Batista Té frisou “Lanço um apelo à todos os Papeis para continuarem a chamar o local de Nbatonha, mesmo se fosse o hospital ou universidade, passarão a denominar-se de Nbatonha”, salientou.
O coordenador da Otepi afirma que futuramente quando Deus vier a pedir a sua terra a responsabilidade será dos autores da sua destruição.
“Devemos antes de mais, recorrer aos estudos de geólogos para saber porquê que toda a água da parte baixa de Bissau concentra naquela localidade e nunca seca”, disse.
Aquele responsável sublinhou que está a pedir o respeito e dignidade à etnia Papel, acrescentando que, no mínimo, as pessoas deviam os chamar para o diálogo , enquanto proprietários tradicionais de Bissau.
Disse recordar que aquando da construção do Estádio Nacional 24 de Setembro, o governo reuniu com todos os régulos de Bissau para lhes informar sobre a construção da referida infraestrutura desportiva.
“Estão a provocar para depois dizer que um grupo étnico está a reivindicar. Se alguém for atingido na sua dignidade tem por direito reivindicar”, disse.
Por sua vez, Orlando Gomes Nanque, um dos filhos do falecido Nbatonha, dono do espaço, recontou o historial do referido terreno que disse pertencer ao seu pai.
Nbatonha significa no dialeto Papel ”não sou alguém”.
Segundo Orlando Nanque, a ex-Presidente da Câmara Municipal de Bissau, Francisca Vaz Turpin foi quem colocou a venda o espaço, logo após o conflito político militar de 7 de Junho de 1998.
Informou que o espaço na altura foi posta à venda em leilão, sem consultar os seus proprietários e nem a comunicação passou nos órgãos de comunicação social.
“Desde àquela altura, sempre estou a reivindicar o terreno na qualidade de filho herdeiro, através de muitas cartas que enviei à sucessivos presidentes da Câmara Municipal de Bissau. Até agora nada surtiu efeito”, frisou Orlando Gomes Nanque.
A conferência de imprensa da organização Otepi foi presenciada pelos representantes de nove regulado dos Papeis, desde Biombo, Reino de Tôr, Bijimita, Safim, Antula, Reino de Ntim(Ndjacá), Cumura e Prábis.
O governo através da Câmara Municipal de Bissau, anunciou a construção no Parque Urbano de Nbantonha de um Centro Comercial, Hospital, Parque de Diversão e uma Mesquita, com financiamento da Turquia.
A decisão foi contestada pelas organizações da defesa e preservação do ambiente alegando que Nbatonha é a única reserva de água no centro de Bissau.
O ministro do Ambiente e Biodiversidade afirmou em conferência de imprensa na semana passada que o local não tem nenhum estatuto do ponto de vista ambiental. ANG/ÂC//SG